domingo, 17 de janeiro de 2010

Executivos defendem sociedade sem dinheiro vivo


É natural que um executivo de empresa de cartão de crédito queira ver cada vez mais o dinheiro de plástico tomar o lugar do papel-moeda. Mas Steve Perry, vice-presidente executivo da Visa Europa, tem feito mais do que isso: ele vem reunindo dados e fazendo campanha a favor de uma sociedade sem cédulas na carteira. "Dinheiro vivo é caro. Precisamos reduzir seu uso", afirma ele.

Caro? Vinhos raros são caros, assim como roupas feitas sob medida ou arte moderna. Mas dinheiro? "Por que os supermercados inventaram o cashback?", pergunta ele (cashback é um sistema comum na Europa em que o caixa da loja cobra a mercadoria do cliente e ainda oferece a possibilidade de saque de dinheiro vivo, como se fosse um caixa eletrônico de banco).

O próprio Perry responde: "Os supermercados querem o dinheiro fora do sistema, para que haja o mínimo possível para ele administrar. Processar uma transação com cartão pode ser mais barato do que ficar manuseando dinheiro", afirma ele.

Perry é uma liderança entre seus pares executivos na defesa da cashless society, ou a sociedade sem dinheiro vivo, em tradução livre. Ele pode ser suspeito para defender isso, afinal é do time do dinheiro de plástico. Mas diz que vem sendo cada vez mais fácil defender seu lado. A última ajuda veio do Conselho de Pagamentos da Grâ-Bretanha, que previu o fim do recurso do cheque para 2018. O conselho responde pela escolha das estratégias que definem as melhores formas de pagamento para todos os envolvidos nas transações financeiras na Grã-Bretanha.

"Há métodos muito mais eficientes de fazer pagamentos no século 21 do que por meio de papéis. Chegou a hora de a sociedade colher os frutos de sua substituição", afirma Paul Smee, executivo-chefe do conselho e outro entusiasta da sociedade sem dinheiro vivo.

Para Perry, o mesmo argumento vale para as cédulas e moedas. Elas nunca deverão ser completamente substituídas, pois afinal estão entre nós desde 3 mil anos antes de Cristo. "Mas na era da eletrônica, bem que os pagamentos podem evoluir um pouco", diz.

A questão central é o custo. A Comissão Europeia calcula que a soma de todos os pagamentos para a sociedade, incluindo dinheiro vivo, cheques e cartões, alcance de 2% a 3% do Produto Interno Bruto dos países europeus. E que o dinheiro vivo seja equivalente a dois terços desse total. Para comparar, o setor da agricultura responde por 2,1% no PIB continental. "Ou seja, gastamos mais em pagamentos do que produzimos em comida", afirma Perry.

Estima-se que o custo do dinheiro para cada cidadão seja de 200 euros (R$ 500) por ano. E que o custo para um lojista seja equivalente a 1,3% do preço de venda de um produto.

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