quarta-feira, 19 de novembro de 2008

O Que um Bom Trovador Não Sabe?

A Taverna dos Uivos tinha esse nome porque podia se escutar os lobos no alto da montanha. Diziam que os animais costumavam agir assim quando alguém estava mentindo demais. Mas isso era um segredo dos moradores locais, que se divertiam quando trovadores viam de outras cidades e acabavam por despertar nos freqüentadores costumeiros uma assembléia de risos. Por costume eles deixavam os trovadores ir longe a suas histórias, o que fazia com que alguns tivessem que segurar a boca. A taverna é considerada a mais movimentada do vale, farta em bebidas exóticas e apresentações musicais durante a noite. Quem tinha esse privilegio de poder usufruir de um lugar de tamanho divertimento eram os moradores do vilarejo de Valfare. Esse lugar não era como outras tavernas de algumas cidades maiores em que os seus freqüentadores apresentavam exímia hostilidade em que uma palavra desdita poderia significar que estava flertando com a morte senão entregue a ela de uma vez. Apesar de muitos também manterem sigilo das informações preciosas havia muita receptividade por parte de todos. Todo mundo era alegre, e discretamente debochado. Aqui as pessoas se divertiam com o ridículo.
Essa noite Erk, o grande trovador estava no vilarejo. E claro. Não poderia deixar de passar pela Taverna dos Uivos para mentir a todos. Ou pelas menos era o que esperava sem nenhuma noção. Nessa noite, o recinto teve uma data especial. Quem pode presenciar nunca mais esqueceu. Um grupo de três homens estava sentado em uma mesa ao canto oposto ao balcão, eles usavam vestimentas modestamente ornadas de metais preciosos em carregavam algumas sacolas de couro, notoriamente se podia ver que eram mercadores. Ao seu lado um grupo de soldados munidos de espadas de aço comum bebia e gritava como se fosse os únicos ali dentro, provavelmente estavam em hora de descanso. Um homem a sua frente se aborrecia com a exaltação dos soldados. Ele era alto e esbelto e tinha uma barriga delicadamente grande. Diversas vezes que apontava o seu olhar colérico aos homens, se percebia evidentemente que ele bisbilhotava a conversa dos outros em busca de algum motivo para começar uma briga. Em um canto mais afastado um ladrão conversava embevecidamente com alguns guerreiros. O ladino possuía os mais diversos acessórios. Ao seu cinto, havia uma adaga presa sem bainha, dois molhos enormes de chaves e diversas bolsas. Os três guerreiros estavam carregando espadas largas e vestiam armaduras simples de couro. Eles estavam tão distraídos que pareciam estar desleixados do ambiente. Sua mesa era a maior da taverna e um mapa que cobria praticamente toda ela estava ali desenrolado. Um pouco próximo a eles estava um grupo de aldeões de indubitável pobreza. Eles vestiam camisas de malha simples e não estavam armados de nenhuma forma. Cada um deles colocou sobre a mesa a quantia de uma peça de ouro que tinham em disposição, que somou ao todo, quatro. A sua frente uma mesa redonda estava cercada de animados halfings, eles estavam descontraídos devido à fartura que estavam degustando em bebidas.
A porta abriu. Mas foi tão discretamente que ninguém havia percebido. O trovador mudou sua aparência pela máscara mágica, o que fazia geralmente em suas articulações. Ele entrou e em instantes tinha tomado nota de tudo o que via ali dentro, depois se dirigiu a única mesa que estava vazia. Ele reuniu em sua mente o seu conjunto de histórias sobre o local e tantas outras que havia em seu repertório. Seu ouvido estava atento em todas as conversas á procura de uma pessoa certa para agir. O taverneiro percebeu que o homem havia sentado e se direcionou até ele.
- Boa noite, o que rogas de Dionísio?
Então ai estaria o começado da sua palhaçada.
- Boa noite taverneiro conceda-me um vinho do melhor.
Calmamente o taverneiro pegou o Vinho de Moor, exatamente o mais caro da região. Levou até Erk, colocou uma taça na mesa serviu o elegantemente.
- Ai está senhor! – Afastou-se um pouco e retornou a falar. - Estamos à disposição.
Mas o trovador precisava de um motivo para começar uma conversa. Então fez um gesto para que o taverneiro chegasse próximo e pudesse ouvi-lo. Assim ele fez.
- Taverneiro. Não estou aqui para nenhum fim enganoso. Ou melhor, para sermos amigos poderia dizer seu nome?
Só que os lobos uivaram. Erk mal sabia que a festa que começaria já havia iniciado para os clientes daquela taverna. Todos entenderam o recado.
- Ah! Sou Rerest! Muito prazer e qual seu nome?
- Sou Halluast.
Os lobos uivaram de novo.
- Óh! Pelo que vejo seu nome tem a origem do reino Vanlar?
Ele dissimulou uma expressão confiante.
- Exato!
A terceira vez que os lobos uivaram forçou a curiosidade de Erk a perguntar sobre isso.
- Há lobos uivando no alto da montanha?
- Sim eles pressentem alguma coisa nova na região.
- E ninguém foi conferir isso?
Erk pressentiu que alguma história interessante poderia sair dessa conversa
- Olha amigo deve ser alguma coisa de hoje, ontem eles não estavam assim.
Mal percebia o trovador que todos já estavam observados, claro, discretamente.
- Mas o que é feito para descobrir o que eles estão dizendo? Lobos não falam.
- Na verdade eles são lobisomens! Geralmente o mestre da aldeia tem o oficio de conversar com eles, mas ele está numa reunião com o Lorde Distrito do Vale de Rashemor. O nosso vale. O mestre partiu hoje de tarde.
- Então eles devem ser lobisomens doutrinados por algum xamã. Senão eles não trabalhariam por esse favor?
- Sim é o mestre a aldeia, mas ele não está como eu disse.
- Bom como é esse mestre talvez tenha visto quando passei pelo Distrito do Vale?
- Olha! Ele tem cabelos brancos e um manto verde, sempre segurando um cajado de prata.
Esse foi o pior blefe que o taverneiro havia dado. A pessoa quem se referiu nas aparências é Pell, o trovador da cidade. Ele fica o dia inteiro no portão sentado e sabe todos que chegam e exatamente quando. Pell é o maior trovador que as redondezas puderam conhecer, é pago pela taverna justamente para desmentir outros trovadores.
Bom o trovador já tinha um motivo para se divertir. Pelo menos era o que pensava. Sua intenção era aproveitar a história dos lobisomens, para fazer o seu discurso ludibriador.
- Muito obrigado Rerest! E me traga uma taça de vinho, do mais caro, claro!
O trovador pagou a conta e saiu da taverna. Foi até a hospedaria onde dormia procurou em seu baú um manto e um cajado. Com seus poderes tornou-os igual aos que o taverneiro havia dito de Pell. Deu um tempo, ansiado para entrar na taverna.
Então chegou à hora. Abriu a porta delicadamente e fez um ar característico ao de Pell. Sua voz foi dissimulada por uma das funções da máscara.
- Olhem o mestre voltou!
Gritou um dos guerreiros que estava ali dentro. Mas tudo mundo já sabia a verdade.
- Sim, trago noticias do distrito! Noticias que fui confirmar com os lobisomens.
Um uivo muito alto toou.
- Vejam só! São eles clamando. – Apontou o trovador para as montanhas.
Mais alto ainda os lobos uivavam.
- Os lobisomens estão obedecendo às ordens de outro espírito a qual estão naturalizados a obedecer. Eles se corromperam aos interesses dessa entidade e estão para provocar um ataque ao vilarejo.
Um homem que até então estava oculto no canto escuro da taverna se revelou. Vestia um manto azul forte e de capuz baixado.
- Veja mestre eles pararam.
- Devem estar fazendo alguma preparação para nos atacar!
- Não se preocupe mestre eu irei usar meus poderes.
O homem desvelou o capuz e para o susto trovador, ele reconheceu Pell. O homem que ficava no portão da cidade. Ele não sabia o que fazer então esperou alguma reação de Pell para poder continuar sua enganação como achava que estava fazendo.
- Mas quem é você? – Disse Pell.
- Isso que eu digo que é você! Está tentando se passar pelo mestre da aldeia.
- Então eu vou dizer eu sou Pell o trovador, e você é um idiota.
- Como assim?
- Você quer ver um lobisomem?
Pell retirou a corneta mágica debaixo do manto que imitava os sons que o usuário pedia.
- Você o tempo todo estava me ouvindo?
- Sim! Sou Pell o maior trovador das redondezas.
Todos riram e demoraram cessar o barulho.
- Senta aí amigo! Vamos beber no resto dessa noite.
Os dois trovadores se cumprimentaram. E para não perderem o hábito, passaram a noite mentindo.

by Markito (Marcus Vinicius Martins)

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