segunda-feira, 29 de setembro de 2008

"Pequeno" resumo da crise de crédito que estamos passando

Entenda a crise do crédito

Um período de forte disponibilidade de recursos (liquidez) no mercado internacional gerou um esgotamento de clientes no segmento de financiamento imobiliário e hipotecas nos Estados Unidos. Com recursos sobrando e poucos consumidores com bom histórico de pagamento disponíveis, os bancos passaram a emprestar dinheiro nestas modalidades a pessoas que tinham menos garantias.

Os problemas para estas instituições começaram no final de julho de 2007, quando foram divulgadas as primeiras perdas com este tipo de negócio, frente às dificuldades para recuperar os empréstimos concedidos.

Além dos problemas nas instituições financeiras, a crise chegou às bolsas de valores já que estes mesmos bancos vendiam papéis atrelados aos ganhos com os empréstimos imobiliários. Com medo de perdas, houve uma corrida para resgatar o dinheiro aplicado nestes fundos e, conseqüentemente, uma preocupação se os bancos teriam condição de honrar os compromissos com os investidores em fuga.

Mesmo com a ação dos bancos centrais mundiais, que injetaram dinheiro nos mercados, a American Home Mortgage Investment, uma das maiores fornecedoras independentes de empréstimos residenciais de baixo e médio riscos nos Estados Unidos, entrou com um pedido de recuperação judicial em agosto de 2007.

Os problemas se agravaram em 2008. Em maio, o JPMorgan Chase, um banco comercial, comprou o 5º maior banco de investimentos dos EUA, o Bear Stearns, por US$ 236 milhões. A operação só ocorreu após o Federal Reserve (FED, o banco central americano) ter aceitado financiar US$ 30 bilhões de ativos de menor liquidez da instituição com problemas.

Já em setembro, duas grandes instituições financeiras envolvidas na crise de crédito tiveram destinos distintos. O Lehman Brothers - 4º maior banco de investimento dos EUA - pediu concordata, afetado por perdas acumuladas de US$ 7,8 bilhões e uma carteira de ativos que ainda contava com US$ 54 bilhões em investimentos atrelados ao mercado imobiliário com risco potencial de difícil avaliação.

Um dia depois, a seguradora American International Group (AIG) recebeu um empréstimo de US$ 85 bilhões do governo americano para evitar um possível pedido de falência, após perdas de US$ 18,5 bilhões em três trimestres consecutivos. A empresa foi afetada por ter muitas apólices que protegiam bancos de perdas com investimentos de alto risco.

Ainda em setembro, o banco Washington Mutual - maior de poupança e empréstimos nos EUA - foi fechado pelo governo, na maior falência de um banco na história do país. Os ativos bancários da instituição foram vendidos ao JPMorgan Chase por US$ 1,9 bilhão. Segundo o órgão que fechou o Mutual, o banco tem US$ 188,3 bilhões em depósitos e foi descrito como uma instituição de US$ 307 bilhões.

Entenda o pacote econômico de US$ 700 bilhões
A Câmara dos Estados Unidos rejeitou em uma primeira votação o megapacote econômico de US$ 700 bilhões apresentado pelo governo para socorrer instituições financeiras afetadas pela crise econômica no país.

Apesar do resultado, autoridades do governo e congressistas afirmam que novas negociações serão realizadas em busca de um acordo que garanta a aprovação do pacote em uma nova votação nos próximos dias.

Se a proposta de 106 páginas for aprovada, os Estados Unidos vão testemunhar a maior intervenção do governo na economia desde a crise de 1929.

A BBC preparou uma série de perguntas e respostas para ajudar você a entender o que está sendo proposto.

Quais são as principais propostas do pacote?
O pacote de ajuda ao mercado financeiro tem cinco pontos principais:
1. US$ 700 bilhões serão liberados em parcelas para a compra de papéis podres em poder de bancos e outras empresas em dificuldades financeiras.

Esse é considerado o ponto mais polêmico do plano. Para muitos americanos, trata-se de um proposta de "socorro a banqueiros" paga com o dinheiro do contribuinte.

Com isso em mente, parlamentares democratas exigiram mudanças na proposta original - mais há sinais de que nem todos estão satisfeitos com o plano atual.

Por sua vez, alguns membros do Partido Republicano, o mesmo do presidente George W. Bush, são por princípio contra a intervenção do Estado no mercado e por isso resistem à idéia.

2. O pacote prevê restrições nos pagamentos feitos a executivos das instituições beneficiadas pela ajuda;

3. O governo terá participação em empresas que forem ajudadas;

4. A implementação do pacote será supervisionada por uma comissão;

5. O Tesouro terá que estabelecer um programa de seguros para garantir os ativos das empresas que estão com problemas.

Como o pacote deve funcionar?
Depois da aprovação da proposta pelo Legislativo e pelo Executivo americanos, os US$ 700 bilhões devem ser desembolsados em três parcelas: primeiro, US$ 250 bilhões serão liberados imediatamente após a aprovação do pacote. Depois, se o presidente americano pedir, mais US$ 100 bilhões. A segunda metade dependerá de uma nova aprovação do Congresso.

Com o dinheiro, o governo ajudará as instituições com problemas, comprando os papéis podres, em troca de ações das empresas. Dessa forma, se o banco se recuperar, os contribuintes vão lucrar com os dividendos dos papéis.

Passará a haver restrições aos pagamentos dos executivos dos bancos, que deixarão de ter os chamados "pára-quedas dourados" - imensos pagamentos destinados a banqueiros que estão deixando suas instituições.

O governo vai cancelar deduções de impostos a empresas que pagarem mais de US$ 500 mil por ano a seus executivos.

O Tesouro também lançará um programa de seguros para garantir os ativos dos bancos em dificuldade. Os prêmios seriam pagos pelas próprias instituições financeiras socorridas.

Por fim, será criado o comitê que ficará encarregado de supervisionar a aplicação do dinheiro do pacote. Entre as autoridades que farão parte desse comitê estão os presidentes do Fed (o banco central americano), Ben Bernanke, e da Comissão de Mercado de Valores (órgão que regulamenta o mercado de ações, semelhante à Comissão de Valores Mobiliários brasileira), Chris Cox.

O que são papéis podres?
Papéis podres são títulos com possibilidade de não serem pagos a seus detentores. Ou seja, têm alto potencial de prejuízo, apesar de o volume das perdas que eles representam ser incerto. Isso acontece porque eles estão atrelados a financiamentos imobiliários.

A atual crise foi desencadeada pelo aumento da inadimplência de pessoas que contraíram hipotecas, mas não se sabe ao certo quais conseguirão honrar seus compromissos ou não.

Por que a compra desses papéis deve ajudar os bancos com problemas?
A proposta em votação no Congresso é que os papéis sejam comprados pelo valor de maturação, muito superior ao valor de mercado.

Com isso, as empresas em dificuldades receberiam uma grande injeção de capital, melhorando suas contas.

Isso, por sua vez, diminuiria a insegurança e aumentaria a liquidez do mercado - já que os bancos ganhariam mais segurança para emprestar recursos uns ao outros.

Quando o pacote deve ser aprovado?
Depois de dias de negociações, congressistas democratas e republicanos anunciaram em 28 de setembro um acordo sobre a proposta, mas não existia nenhuma garantia de que o pacote seria aprovado logo.

A incerteza foi comprovada no dia seguinte, com a rejeição do pacote na primeira votação realizada na Câmara dos Representantes.

Mesmo assim, existe a expectativa de que o pacote ganhe o respaldo do Congresso nos próximos dias devido ao forte apoio ao plano - inclusive por parte dos candidatos republicano e democrata à Presidência dos Estados Unidos, John McCain e Barack Obama.

Os parlamentares podem propor modificações à proposta, o que poderia estender as negociações. Depois de aprovado no Congresso, o pacote ainda precisaria da sanção do presidente George W. Bush - que poderia vetar alguns pontos negociados pelos congressistas.

Cronologia: Crise nos mercados financeiros
Depois de dois anos, entre 2004 e 2006, quando a taxa de juros subiu de 1% para 5,35%, o mercado imobiliário americano começou a sofrer, com preços dos imóveis caindo e aumento na inadimplência de mutuários.

A inadimplência em empréstimos do tipo subprime - hipotecas de alto risco para pessoas com histórico ruim de crédito - atingiu níveis recordes.

Abril a agosto de 2007: contágio do subprime
A New Century Financial, especializada em empréstimos subprime, pediu concordata e demitiu metade dos seus funcionários.

Com suas dívidas sendo repassadas para outros bancos, o mercado subprime começou a entrar em colapso.

O banco de investimentos Bear Stearns diz que seus investidores não conseguirão resgatar o dinheiro investido em seus fundos hedge.

O diretor do Federal Reserve (o banco central americano), Ben Bernanke, diz que a crise do subprime pode custar US$ 100 bilhões.

Agosto 2007: Tamanho da crise é revelado
9 de agosto
O banco de investimentos PNB Paribas diz a seus investidores que eles não conseguirão resgatar seus investimentos, devido à "completa evaporação da liquidez" do mercado.

É um sinal claro de que os bancos estão se recusando a emprestar dinheiro uns aos outros.

O Banco Central Europeu investe 95 bilhões de euros no setor bancário, para melhorar a liquidez. Em seguida, mais 108,7 bilhões de euros são investidos. Os bancos centrais dos Estados Unidos, Canadá e Japão começam a intervir.

17 de agosto
O Federal Reserve corta pela metade a taxa de juros para empréstimos a bancos, para 5,75%.

Setembro 2007: Corrida aos bancos
13 de setembro
O banco britânico Northern Rock pediu e recebeu ajuda financeira emergencial do banco central britânico. No dia seguinte, os correntistas retiraram mais de US$ 2 bilhões, em uma das maiores fugas de capital da Grã-Bretanha.

18 de setembro
O Federal Reserve corta a taxa de juro em meio ponto percentual, para 5,75%.

Outubro de 2007: perdas começam a surgir
No dia 1º, o banco suíço UBS revelou perdas de US$ 3,4 bilhões. Em seguida, o gigante Citigroup divulgou que perdeu US$ 3,1 bilhões com o mercado subprime - US$ 40 bilhões no acumulado de seis meses.

No fim do mês, o diretor do Merrill Lynch se demite, depois de revelar que o banco tinha US$ 7,9 bilhões de dívidas que incluíam papéis podres.

Dezembro 2007: Ajuda do governo
No dia 6, o presidente americano, George W. Bush, anunciou um plano para ajudar milhões de mutuários com problemas. O Federal Reserve coordenou ao lado de cinco bancos centrais uma ação para empréstimos a outros bancos.

Fevereiro e março 2008: Nacionalizações e compras
7 de fevereiro
Ben Bernanke alerta para os efeitos da crise do sistema financeiro na economia real. Os líderes do G7 (grupo dos sete países mais industrializados do mundo) dizem que as perdas com o mercado subprime podem chegar a US$ 400 bilhões. O governo britânico nacionaliza o banco Northern Rock.

Em março, o Federal Reserve disponibiliza mais US$ 200 bilhões para bancos em dificuldade.

No dia 17, o quinto maior banco americano, Bear Stearns, é comprado pelo JP Morgan Chase por US$ 240 milhões (um ano antes, o banco valia US$ 18 bilhões).

Abril 2008: Mais efeitos na Europa
8 de abril
O Fundo Monetário Internacional (FMI) alerta que as perdas devido à crise financeira internacional podem chegar a US$ 1 trilhão ou até ultrapassar esta marca.

Segundo o FMI, os efeitos da crise estão se espalhando para outros setores como crédito ao consumidor e dívidas de empresas.

Dois dias depois o Banco da Inglaterra diminui sua taxa de juros para 5%, um corte de 0,25%.

21 de abril
O Banco da Inglaterra divulga os detalhes de um plano ambicioso, da ordem de 50 bilhões de libras (cerca de R$ 171 bilhões) para ajudar bancos, um plano que permitiria que estes bancos trocassem dívidas de hipoteca que potencialmente arriscadas por títulos do governo, mais seguros.

Abril a junho de 2008: Bancos tentam conseguir dinheiro
22 de abril
O banco britânico Royal Bank of Scotland anuncia o plano para levantar dinheiro junto aos acionistas, lançando novas ações no mercado, que chegam ao valor 12 bilhões de libras (mais de R$ 41 bilhões), o maior lançamento de ações da história corporativa da Grã-Bretanha.

2 de maio
O banco UBS, um dos mais afetados pela crise financeira mundial, também lança ações no valor de US$ 15,5 bilhões para cobrir parte de suas perdas, que chegaram a US$ 37 bilhões, mais do que qualquer outro banco afetado pelas turbulências do mercado internacional.

19 de junho
O FBI prende 406 pessoas, incluindo corretores e empreiteiros, como parte de uma operação contra supostas fraudes em financiamentos habitacionais, que alcançaram valor de US$ 1 bilhão.

25 de junho
Outro banco britânico, desta vez o Barclays, anuncia os planos para levantar 4,5 bilhões de libras (cerca de R$ 15,4 bilhões) com lançamento de ações.

Julho de 2008: Grandes financiadores no limite
13 de julho
O banco de hipotecas americano IndyMac entra em colapso e se torna o segundo maior banco a falir na história dos Estados Unidos.

14 de julho
Autoridades financeiras dos Estados Unidos prestam assistência às duas gigantes do setor de hipotecas, Fannie Mae e Freddie Mac.

Juntas, as duas companhias são responsáveis por quase metade das hipotecas dos Estados Unidos e detêm ou garantem cerca de US$ 5,3 trilhões em financiamentos e são cruciais para o mercado imobiliário americano.

Agosto a setembro de 2008: Outros gigantes sofrem
4 de agosto,/B>
O gigante do setor bancário HSBC alertou que as condições dos mercados financeiros são as mais difíceis "das últimas décadas", depois de sofrer uma queda de 28% em seus lucros semestrais.

Dos grandes bancos europeus, o HSBC estava entre os mais atingidos pela crise do mercado imobiliário e de crédito dos Estados Unidos.

30 de agosto
O ministro da Fazenda britânico, Alistair Darling, afirma que a economia da Grã-Bretanha enfrenta sua pior crise dos últimos 60 anos em uma entrevista ao jornal The Guardian.

1º de setembro
Dados oficiais do Banco da Inglaterra mostram queda na aprovação de hipotecas em julho.

5 de setembro
Números do mercado de trabalho americano mostram que a taxa de desemprego no país subiu para 6,1%, causando ainda mais turbulência nos mercados financeiros.

7 de setembro
O governo dos Estados Unidos anuncia que está assumindo o controle das empresas de hipoteca Freddie Mac e Fannie Mae, numa operação que foi considerada uma das maiores do gênero na história americana.

O secretário do Tesouro americano, Henry Paulson, afirma que os níveis das dívidas das duas companhias significavam um "risco sistêmico" para a estabilidade econômica e que, se o governo não agisse, a situação poderia piorar.

10 de setembro
O Lehman Brothers, o quarto maior banco de investimentos dos Estados Unidos, registra perdas de US$ 3,9 bilhões nos três meses anteriores a agosto.

O anúncio ocorre em meio a mais alertas econômicos feitos pela Comissão Européia, afirmando que Grã-Bretanha, Alemanha e Espanha poderão entrar em recessão até o final de 2008.

15 de setembro
Depois de dias em busca por um comprador, o Lehman Brothers entra com pedido de concordata, se transformando no primeiro grande banco a entrar em colapso desde o início da crise financeira.

O ex-presidente do Fed Alan Greenspan afirma que outras grandes companhias também poderão cair.

No mesmo dia, o Merrill Lynch, um dos principais bancos de investimento americanos, concordou em ser comprado pelo Bank of America por US$ 50 bilhões para evitar prejuízos maiores.

16 de setembro
O Federal Reserve anuncia um pacote de socorro de US$ 85 bilhões para tentar evitar a falência da seguradora AIG, a maior do país.

Em retorno, o governo assumirá o controle de quase 80% das ações da empresa e o gerenciamento dos negócios.

25 de setembro
Outro gigante do setor de hipotecas dos Estados Unidos, o Washington Mutual, é fechado por agências reguladoras e vendido para seu adversário, o Citigroup.

28 de setembro
A crise se alastra mais pelo setor bancário europeu com a nacionalização parcial do grupo belga Fortis, para garantir sua sobrevivência.

Autoridades na Holanda, Bélgica e Luxemburgo aceitaram investir 11,2 bilhões de euros na operação.

Nos Estados Unidos, legisladores anunciaram que chegaram a um acordo bipartidário para aprovação do pacote de US$ 700 bilhões para salvar instituições financeiras afetadas pela crise.

29 de setembro
A Câmara dos Representantes (deputados) dos Estados Unidos rejeita o pacote de US$ 700 bi proposto pelo governo americano para socorrer instituições financeiras afetadas pela crise. Os legisladores retomam as negociações para realizar uma nova votação na casa.

O Wachovia, o quarto maior banco americano, é comprado pelo Citigroup, em um acordo de resgate que conta com o apoio das autoridades americanas. Segundo este acordo o Citigroup vai absorver até US$ 42 bilhões dos prejuízos do Wachovia.

Na Grã-Bretanha, o governo confirmou a nacionalização do banco de hipotecas Bradford & Bingley. O governo assume o controle de financiamentos e empréstimos do banco no valor de 50 bilhões de libras (cerca de R$ 171 bilhões) enquanto suas operações de poupança e agências são vendidas para o Santander, da Espanha.

O governo da Islândia assume o controle do terceiro maior banco do país, Glitnir, depois que a companhia teve problemas com fundos de curto-prazo.



copeiado do terra

Nenhum comentário: